Lago Cristalino da Harmonia

“De acordo com minhas anotações já faz 16 dias que estou empenhada em subir as montanhas do Norte Branco. Não estou indo no meio da região, apenas vou com mais afinco onde já explorara superficialmente para fazer um mapa à um grupo de viajante; foi nessa ocasião que visitei o Templo das Flores Etéreas. Por quê faço isso? Desta vez não é para trabalho, mas sim por curiosidade e espírito de aventura. Trabalhando com algo que se gosta, as vezes é melhor dar uma pausa e fazer algo para si mesma que para terceiros.”

“Foram poucas as vezes que viajei para lugares tão frios e, sendo sincera, não aguento muito frio. Sou uma pessoa friorenta e estou sofrendo nesse clima de montanha. Nem ao menos está no inverno (aí eu estaria morta congelada) e sofro como se estivesse. Uso quantos agasalhos posso e no momento apenas desejava ter alguma arcana que esquentasse o corpitcho.”

“Sabe, ao refletir sobre “alguma arcana que esquentasse o corpitcho” percebo que a transmissão de calor humano via toque por uma área extensa, vulgo abraço, resolveria este meu problema com certa facilidade. Em fato, resolveria grande parte dos meus problemas.”

“Não me considero uma pessoa solitária no sentido melancólico da palavra, porém é impossível negar que minhas viagens são solitárias, e como elas costumam durar meses, eu sou frequentemente solitária. Penso vez ou outra de ter algum parceire, mas me acompanhar nessas provações divinas que chamo de viagens necessita de um grande “amor” por parte da pessoa.”

“Enquanto andava pela região avisto o que parece um pequeno vale, uma espécie de refúgio oval cercado completamente pelas montanhas. A descida parece íngreme e o degelo do verão teve mais efeito nela do que na parte onde estou, o que torna difícil de chegar abaixo sem um dolorido acidente. Nestas encostas é possível ver pequenas áreas verdes, terraços naturais, com a grama amostra, algumas flores que resistiram à neve e árvores aéreas com uma folhagem tímida. Desci, tive um não tão doloroso acidente.
No vale há um riacho que nasce de uma das pedras que o cercam, provavelmente aumentou o leito graças ao degelo, e percorre montanha adentro, num ponto onde perco a visão. A vegetação está tal qual a dos terraços, só com mais áreas dominadas por arbustos e pequenas árvores. As cores destoam de toda a paisagem alva que tive por todo o trajeto, com tons cheios de vida mesmo que ainda mantenham a claridade da região, tendo nenhuma cor extremamente vibrante. As folhagens e gramas são de verde escuro, as flores vão de esbranquiçadas a algumas arroxeadas e amareladas; não conheço muito delas e só posso imaginar que as brancas são orquídeas, já que estão presas em outras árvores, e as roxas são íris. Pelo relevo aqui parece ser mais quente, como se o calor aqui se concentrasse, e admito que ficaria aqui pela noite se eu não tivesse medo de um repentino deslizamento me deixar presa aqui… É, escrevendo deixa o medo mais bobo do que era para mim. Vou passar a noite aqui mesmo.
Agora que pausei tudo e me sentei a margem do rio, noto que há algo além do enxergado aqui. O vento que sopra mexe meus cabelos como numa carícia suave, quase um pentear dele, enquanto um som sinistro e belo, junto com o barulho de água correndo, ecoa pelas paredes. Por um momento fechei os olhos e apenas aproveitei a sensação, uma sensação de tranquilidade que só de respirar fundo dava para sentir o ar percorrer todo o corpo e ao expirar o cansaço saia, ficando aquela moleza que quase dói. Com o balançar das árvores algumas folhas caem no topo do chapéu e ao limpar vejo que nunca estou realmente sozinha em minhas viagens. Mesmo que rodeada de seres a qual não falam, eles ainda se comunicam comigo. Das raízes abaixo da terra ao ar nos céus, estou sempre em contato com alguma entidade da natureza, com alguma forma de vida. Talvez seja nisso que consiste a crença dos “espíritos das coisas”. Ao anoitecer o brilho das estrelas só dá mais força a este pensamento, são momentos como esse que me dão a certeza de que estas jornadas valem mais do que qualquer outra coisa que eu poderia querer. Boa noite, estrelinhas.”

“Eu deveria começar a contar os dias, estou a tanto tempo sem escrever aqui que não me lembro bem porquê parei. Acho que foi o clima mais violento e uma subida mais difícil, estou longe de ser uma atleta né. Agora se a natureza tem consciência de que está fazendo, ela está de mal comigo. Oh, lembrei de uma música…”

“Por fim penso que se passaram mais 9 dias desde o início desta jornada pessoal em busca de um lugar especial que acho ter encontrado. A vegetação ficou mais viva progressivamente enquanto entrava; se tratando do clima inclemente que estou, é sinal de algo anormal, talvez mágico. As paredes rochosas, comumente cobertas de neve, agora se mostram com vinhas e musgo, musgo que indica presença de água em algum lugar. O caminho estreita, se transformando quase num corredor, com um chão acidentado e difícil de andar sobre. Depois de poucos minutos enfim chegava onde queria.
Meneava a cabeça, olhando em volta, só para ter convicção que não tinha caído numa possível ilusão (parece algo comum por aqui?), mas o efeito estonteante que a paisagem tinha com certeza advinha de magia. Na entrada não era possível ver o que eu esperava, entretanto só de ser um lugar quente já indicava que era ali. A temperatura estava amena, quente apenas em comparação ao lado de fora, a grama tinha a mesma cor da que encontrei no vale, as árvores tinham uma folhagem vívida e tamanhos variados; esperava pinheiros e só achei árvores normais, com algumas dando flores. A parte estranha surgiu quando olhei para o outro lado e tinha a mesma árvore com as mesmas flores, só… Invertida? O local inteiro era cercado por uma parede circular de pedra de aproximadamente 3m (atestado por ser bem maior que um pulinho meu com braço esticado) e pareciam estar limpas (?). Olhava para o céu apenas para me arrepender em um segundo, porquê o sol estava exatamente em cima como se fosse meio dia; o problema é que não era para ser meio dia. Vou até debaixo das árvores para melhorar os olhos num lugar mais escuro e aproveito para fazer um teste (ou vandalismo) de marcar a árvore com minhas iniciais do lado direito dela e sim, uma árvore do outro lado com a mesma marca no lado esquerdo. Feito isso fui até o meio e achei o Lago Cristalino da Harmonia. Dizem que ele fica no ponto onde o sol bate durante o dia inteiro, por isso brilha, e todo o seu redor está num equilíbrio perfeito de energia e estado. Sendo assim ele também é um espelho, tendo os dois lados sua harmonia invertida. Para mais um teste, ajoelho às margens do lago, que tem uma terra fofinha que dá vontade de deitar, e toco na superfície da água criando uma ondinha; e realmente do outro lado uma onda surgiu anulando a que criei no meio dele.
Respirava fundo de alívio e orgulho da conquista, deitando na grama e olhando o céu; a cor continuava aquele azul pálido de lugares nevados, tendo um maior brilho graças ao lago resplandecente. Sentia que todo meu estresse e cansaço ia embora do meu corpo e não sei quanto tempo fiquei neste cochilo consciente, pois sempre que abria os olhos o sol ainda estava no seu meio dia. Espreguiço bem devagar e vou até a mochila pegar o caderno de desenho, sentando na sombra da árvore e gravando a paisagem nas páginas. Durante o tempo de desenho sinto algo estranho me observando e pensando que é paranoia ignorei por uns minutos até ficar insuportável. Olho em volta meneando rapidamente a cabeça e meus olhos param numa figura turva a qual só tinha uma silhueta de uma cor azulada, uma silhueta que parecia a minha. Do mesmo jeito que eu olhava para ela, ela olhava para mim com olhos ainda não definidos. Pensando se isto realmente é um espelho, logo ele vai tentar espelhar tudo que estiver aqui… Até seres vivos. Com medo de fazer algo que seja irreversível junto minhas coisas, coloco minhas botas e saio dali. Meu pensamento viaja e pensei em pegar uma amostra d’água, porém meu medo disto ser um desrespeito ao local não permitiu.
Fui embora como já deveria ter ido enquanto fazia anotações do que poderia acontecer para quem ficasse tempo o suficiente naquele local. Respirava fundo levantando minha cabeça aos céus e vendo que já estava anoitecendo. Nada do que aconteceu me trazia algo que não fosse curiosidade sobre o lago. E se eu mergulhasse ali? Se bebesse a água? Eu queria saber, porém já perdi mais de um mês atrás disto. Marcado o lugar em minha memória e tintura, deixava os descobrimentos para outra aventura. Assim, voltei para casa com um ritual de teleporte, onde termino de de escrever todo este relato.”

Uma resposta para “Lago Cristalino da Harmonia”.

  1. Eu gostei… Queria ir neste lago *—-*

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